A questão sobre os 10% do dízimo no Novo Testamento é uma das mais debatidas entre estudiosos da Bíblia, teólogos e líderes religiosos. A prática do dízimo — tradicionalmente definida como a entrega de dez por cento da renda ao templo ou à igreja — está profundamente enraizada na Lei Mosaica do Antigo Testamento. Mas será que essa proporção específica é reafirmada no Novo Testamento? Neste artigo, exploraremos os principais textos bíblicos, o contexto histórico e a teologia por trás do dízimo cristão.
A origem do dízimo: Antigo versus Novo Testamento
No Antigo Testamento, o dízimo era uma obrigação legal dada por Deus a Israel. Passagens como Levítico 27:30, Números 18:21 e Deuteronômio 14:22 estabelecem claramente o sistema de tributos espirituais baseados em 10% dos ganhos agrícolas e animais. Este percentual era usado para sustentar os levitas, estrangeiros, órfãos e viúvas.
Entretanto, quando olhamos para o Novo Testamento, não encontramos um mandamento explícito que exija o pagamento exato de 10% do dízimo no Novo Testamento. Jesus menciona o dízimo em Mateus 23:23, criticando os fariseus por se apegarem à prática legalista do dízimo enquanto negligenciam aspectos mais importantes da lei, como justiça, misericórdia e fé. Contudo, mesmo ali, o foco não está nos 10%, mas na hipocrisia religiosa.
Generosidade voluntária: O princípio neotestamentário
A ênfase do Novo Testamento não está em números fixos, mas na generosidade voluntária e proporcional. Em 2 Coríntios 9:6-7, o apóstolo Paulo declara:
“Cada um contribua segundo propôs no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama quem dá com alegria.”
Essa passagem substitui a obrigação legal do Antigo Testamento por um princípio espiritual mais profundo. O padrão agora é a liberalidade do coração, e não mais o cálculo exato de 10% do dízimo no Novo Testamento.
Dízimo como princípio, não como mandamento
Apesar da ausência de um mandamento direto, muitas igrejas cristãs continuam a usar o modelo dos 10% como uma referência prática de contribuição. O raciocínio é que, se sob a Lei Antiga os fiéis entregavam 10%, quanto mais sob a graça deveriam ser generosos? O dízimo, nesse caso, não é visto como imposição, mas como princípio orientador de mordomia cristã.
Essa abordagem, embora não tenha respaldo jurídico no Novo Testamento, é sustentada por teologias da prosperidade, pactos e administração fiel, onde os 10% do dízimo no Novo Testamento funcionam mais como padrão mínimo de fidelidade do que como obrigação divina.
O exemplo da Igreja Primitiva
Atos 2:44-45 e Atos 4:32-35 revelam que os primeiros cristãos praticavam um nível de comunhão financeira ainda mais radical, vendendo propriedades e bens para repartir conforme a necessidade de cada um. A ausência de qualquer menção direta aos 10% do dízimo no Novo Testamento nessas passagens indica que a igreja primitiva não operava com base em percentuais, mas em total desprendimento material.
Conclusão
Embora a Bíblia não reforce literalmente os 10% do dízimo no Novo Testamento, o princípio da contribuição continua válido — não como regra aritmética, mas como expressão de generosidade e fé. O Novo Testamento desafia os crentes a irem além da matemática, doando com alegria, propósito e responsabilidade espiritual.
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