A pergunta “é obrigatório dizimar no Novo Testamento?” continua sendo uma das mais debatidas entre cristãos que desejam seguir fielmente os princípios bíblicos sem cair em legalismos ou doutrinas humanas. Neste artigo, faremos uma análise profunda, com base na exegese bíblica e nos contextos históricos e teológicos, para entender se o dízimo permanece como um mandamento obrigatório para os cristãos da Nova Aliança.
O conceito de dízimo no Antigo Testamento
O termo “dízimo” deriva do hebraico ma‘ăśēr, que significa literalmente “a décima parte”. No Antigo Testamento, o dízimo era parte essencial da lei mosaica, com três propósitos principais:
- Sustento dos levitas e sacerdotes (Números 18:21-24).
- Manutenção do templo.
- Ajuda aos necessitados – incluindo órfãos, viúvas e estrangeiros (Deuteronômio 14:28-29).
O sistema levítico era teocrático, e o dízimo funcionava como um tipo de imposto religioso. No entanto, esse modelo estava profundamente ligado à aliança mosaica e à estrutura do templo em Jerusalém.
O silêncio do Novo Testamento sobre a obrigatoriedade do dízimo
Ao entrarmos no Novo Testamento, notamos uma mudança significativa de foco: o sacerdócio levítico é substituído pelo sacerdócio de Cristo, conforme a ordem de Melquisedeque (Hebreus 7:11-17), e o templo físico dá lugar ao templo espiritual, que é a Igreja (1 Coríntios 3:16-17).
Jesus menciona o dízimo em Mateus 23:23, ao criticar os fariseus por sua hipocrisia:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e desprezais o mais importante da lei: a justiça, a misericórdia e a fé.”
Neste contexto, Jesus não está reforçando o dízimo como mandamento perpétuo, mas sim criticando a religiosidade vazia. Após a ressurreição de Cristo, nenhuma epístola apostólica ordena o dízimo aos cristãos gentios. Isso nos leva à questão central: é obrigatório dizimar no Novo Testamento?
A doutrina da graça e o princípio da liberalidade
O Novo Testamento enfatiza a liberalidade voluntária como expressão de fé e amor cristão. Em 2 Coríntios 9:7, o apóstolo Paulo afirma:
“Cada um contribua segundo propôs no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”
Esse versículo é chave para compreender a nova ética cristã: a generosidade não é baseada em percentuais fixos, mas no coração transformado pelo Espírito Santo. Portanto, sob a Nova Aliança, a contribuição deve ser:
- Intencional
- Voluntária
- Proporcional à prosperidade do crente (1 Coríntios 16:2)
Embora Paulo fale sobre sustento de ministros do evangelho (1 Coríntios 9:13-14), ele nunca vincula isso diretamente ao dízimo, mas sim ao princípio de reciprocidade e justiça.
O dízimo como princípio e não como lei
Muitos estudiosos argumentam que o dízimo deve ser entendido como princípio espiritual atemporal, e não como mandamento legal. A base para isso está em Gênesis 14:20, quando Abrão entrega o dízimo a Melquisedeque, antes da Lei mosaica. Isso indicaria que o dízimo pode ser praticado por fé e gratidão, e não por obrigação.
Contudo, mesmo nesse caso, não há mandamento. Foi um ato espontâneo. Isso fortalece a ideia de que o dízimo, sob a Nova Aliança, não é compulsório, mas sim um modelo possível de generosidade.
Conclusão: É obrigatório dizimar no Novo Testamento?
Após uma análise bíblica e teológica, a resposta mais equilibrada à pergunta “é obrigatório dizimar no Novo Testamento?” é: não, não é uma obrigação legal, mas pode ser um princípio espiritual válido. A doutrina do Novo Testamento substitui a rigidez do sistema levítico por uma ética do coração, baseada na graça e na generosidade.
A contribuição financeira continua essencial para a sustentação da Igreja e para o auxílio aos necessitados. Porém, o modelo neo-testamentário favorece a liberdade com responsabilidade, e não a imposição legalista.
Portanto, se alguém pergunta hoje: “É obrigatório dizimar no Novo Testamento?”, a resposta deve ser dada com equilíbrio, evitando tanto a negligência quanto o legalismo. A prática da generosidade deve ser motivada pela gratidão ao evangelho e pelo compromisso com o Reino de Deus.
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